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Afuá, na Ilha do Marajó, aguarda distribuição de cestas básicas

Por Carlos Molinari – Repórter da TV Brasil – Afuá (PA)

Nesta segunda-feira, a ministra da Família, da Mulher e dos Direitos Humanos, Damares Alves, visitará as cidades de Afuá e Muaná, ambas na Ilha do Marajó, no Pará, participando diretamente da entrega de cestas básicas às comunidades ribeirinhas.

Um dia antes, a cidadezinha de Afuá, com 40 mil habitantes, já estava em polvorosa com a chegada do Navio Auxiliar Pará, com 200 militares a bordo. Foi ele que trouxe no seu porão as 16 mil cestas básicas – fruto de uma parceria do governo federal com a rede Carrefour e a Associação Paulista de Atacadistas e Supermercadistas (Apas). A longa viagem da Base Naval de Belém até o atracadouro de Afuá (distantes 256 quilômetros) durou dois dias, navegando por vários furos e estreitos da bacia amazônica. 

No trapiche, o movimento foi intenso. Militares passavam de mão em mão as cestas, que logo eram desinfectadas, colocadas em carroças e levadas para o ginásio do município. A ação, batizada de Pão da Vida é emergencial em tempos de pandemia.

LEGENDA
As cestas básicas foram descarregadas, colocadas em carroças e levadas para o ginásio do município – Marcelo Camargo/Agência Brasil

Falta de saneamento

“Ouvi no rádio, os que têm o Cadastro Unico vão receber a cesta básica, vão de casa em casa. A minha filha, tomara que ela receba, porque ela necessita, tem uma bebezinha e está desempregada” – disse a aposentada Doralice Reis, que nasceu em Afuá.

A cidade natal de dona Doralice tem 8 mil pessoas inscritas no programa Bolsa Família e um agravante: não há saneamento básico em Afuá.

“Aqui no centrinho é tudo bonito, tem várias obras. Mas vá até o bairro Capim Marinho. Lá as pessoas têm que pegar água no igarapé e jogar para as caixas d´água. O problema é que o igarapé também serve de banheiro. Não temos fossa”, denunciou Luís Henrique Paiva, um dos muitos jovens desempregados de Afuá. 

E não há perspectivas de emprego a curto prazo. Por causa da pandemia de covid-19, o município está isolado. Os navios que fazem a travessia até Macapá (capital do Amapá), em um percurso que costuma demorar 3 horas e meia, não podem mais levar passageiros, apenas carga. Isso atrapalhou o fluxo, impossibilitando parte da economia da chamada “Veneza Marajoara”. 

“Aqui só tem três barcos disponíveis para fazer transporte de mercadoria. Nós ficamos sem fluxo agora. Não posso nem ir para o interior, tem vigias no porto” – reclamou o comerciante Fernando Espíndola que, por lei municipal, só pode manter a sua distribuidora de bebidas aberta das 8h às 14 h.
  
Coincidentemente, o maior barco de passageiros – o Virgem da Conceição -, com capacidade para transportar 300 pessoas confortavelmente em três andares (a passagem até Macapá custa R$ 50), está atracado há vários meses em frente a casa do prefeito de Afuá, sem poder navegar. 

Moradores de Afuá, um dos municípios do arquipélago de Marajó que receberá as ações da Operação Covid19.
Moradores de Afuá, um dos municípios do arquipélago de Marajó que receberá a ação Pão da Vida – Marcelo Camargo/Agência Brasil

Dia histórico

Mazinho Salomão (PSD-PA) já está no terceiro mandato à frente da prefeitura. Segunda-feira será um dia histórico para o município: a primeira vez que um ministro de estado vem a Afuá. 

“Desde que a ministra Damares soube que no Marajó há casos de prostituição infantil, ela passou a se preocupar mais com a ilha. Daí, as ações começaram a surgir e sem dúvida nenhuma, quem vai agradecer é a população”, disse o prefeito.

Ao todo, 7.550 cestas serão entregues em Afuá na segunda-feira e outras tantas na vizinha Chaves, na quinta-feira, dia 18. 

“A gente já está há 3 meses nessa situação. Mas eu tenho fé que logo, logo isso vai passar” – disse a moradora Nazaré Lameirão, encostada na porta de sua casa de palafita, sem ter certeza se o cadastro que sua neta fez no site do governo lhe dará direito a uma cesta básica.  

Militares das Forças Armadas descarregam as cestas básicas que serão doadas ao município de Afuá.
Militares das Forças Armadas desinfectam as cestas básicas que serão doadas ao município de Afuá. – Marcelo Camargo/Agência Brasil

Baixo IDH

A ilha do Marajó tem vários municípios em situação de pobreza, por isso o programa Abrace o Marajó foi criado pelo Ministério da Família, da Mulher e dos Direitos Humanos e esta ação específica, chamada Pão da Vida, focaram na grande ilha paraense. 

Melgaço (26 mil habitantes) tem o pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) entre as mais de 5.600 cidades do Brasil; um título que ninguém gostaria de ostentar. Chaves (23 mil moradores) está em sexto lugar e Bagre (30 mil pessoas) é a oitava pior cidade neste ranking.

Afuá ainda está em condições melhores que as vizinhas. Talvez por isso, o “batedor de açaí”, Elvis Vasconcelos não tenha dúvidas em afirmar: “Um dos melhores lugares para se viver é Afuá, tranquilo, é um paraíso. Se a maioria das cidades fosse assim, a gente ia viver bem mais”, disse, otimista.

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