Por José de Castro – Repórter da Reuters – São Paulo
O dólar fechou em alta contra o real nesta quarta-feira, descolado das operações nos mercados externos, conforme investidores assumiram posição mais defensiva antes de feriado no Brasil e após o banco central dos Estados Unidos manter sua política monetária.
O dólar à vista encerrou com valorização de 1,05%, a R$ 4,9398 na venda. O dólar futuro negociado na B3 tinha ganho de 1,38%, a R$ 4,9725, às 17h28.
O dólar spot chegou a cair 1,00%, a R$ 4,8395, na mínima do dia, logo após a abertura, mas na sequência passou a ganhar tração até subir.
Após o anúncio da decisão de política monetária pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), a cotação voltou a cair, mas rapidamente recobrou forças até bater a máxima da sessão, de R$ 4,9623 (+1,51%), às 15h55. Houve alguma realização de lucros posteriormente, mas nada que impedisse o fechamento em alta.
“O mercado está tirando o pé do acelerador. A recuperação (dos ativos) no Brasil foi muito forte, muito rápida”, disse Adriano Cantreva, sócio da Portofino. “Os preços estão esticados em relação ao fundamental, e no Brasil ainda mais”, completou.
Já na terça o dólar havia subido 0,69%, após cair 2,66% na segunda-feira, quando atingiu o menor valor em 12 semanas. A cotação vinha de 11 quedas dentre 14 pregões e até a segunda acumulou baixa de 17,73% desde a máxima recorde de fechamento –de R$ 5,9012, alcançada em 13 de maio.
O feriado na quinta-feira também respaldou a posição mais conservadora do mercado. Investidores costumam reduzir exposição antes de dias sem negociação visando minimizar riscos de perdas a depender do noticiário.
E, apesar de aparente descompressão nas últimas semanas, o front político segue no radar de operadores. “O cenário político afeta mais dólar do que, por exemplo, a bolsa, por causa do componente de investimento estrangeiro”, disse Helena Veronese, economista-chefe na Azimut Brasil Wealth Management. “Talvez tenhamos esse descolamento (do câmbio em relação ao exterior) mais vezes”, acrescentou.
Enquanto o dólar subiu 1,05% no Brasil, a moeda norte-americana cedia no fim da tarde 0,9% contra rand sul-africano, 0,2% ante peso mexicano, 0,3% frente à lira turca e 0,6% em relação à moeda da Austrália.
O índice do dólar contra uma cesta de seis rivais de países desenvolvidos perdia 0,4% e renovou mínimas em cerca de três meses.
Analistas avaliam que o câmbio também pode encontrar mais resistência para apreciação adicional diante de renovada expectativa de afrouxamento monetário no Brasil.
Embora tenha vindo acima das previsões, o IPCA de maio, divulgado nesta quarta pelo IBGE, registrou a maior deflação desde agosto de 1998, e o acumulado em 12 meses se distanciou ainda mais do piso da meta perseguida pelo Banco Central.
“De certa maneira, não vemos espaço para pressão de demanda para a inflação no curto prazo devido ao hiato aberto e à inércia favorável”, afirmou Julia Araujo, economista sênior do Itaú Unibanco.
O banco privado prevê Selic ao fim do ano de 2,25%, mas no mercado alguns analistas têm se posicionado para um juro abaixo de 2%. A queda da Selic é citada como fator que pressionou o câmbio nos últimos tempos, já que reduziu a taxa paga por títulos de renda fixa e colocou o Brasil em desvantagem em relação a outros emergentes com juros básicos mais elevados.