Por Cristina Indio do Brasil – Repórter da Agência Brasil – Rio de Janeiro
O saldo da balança comercial em março ficou em US$ 4,7 bilhões, montante que supera o registrado no mesmo mês em 2019, de US$ 417 milhões. No acumulado do primeiro trimestre, o superávit foi US$ 5,6 bilhões, abaixo dos US$ 9 bilhões do primeiro trimestre de 2019. Os resultados estão publicados no Indicador do Comércio Exterior (Icomex), divulgado hoje (14) pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV/Ibre).
De acordo com o Icomex, em valor, as exportações aumentaram 10,4% no mês e as importações 10,6%, quando comparadas a março de 2019. Entre os dois primeiros trimestres dos dois anos, no entanto, as exportações tiveram queda de 9% e as importações subiram 4,3%.
O volume dos fluxos de comércio teve variação positiva interanual de 13,0% nas exportações e de 14,6% nas importações na comparação entre os meses de março. De acordo com a FGV, desde outubro as exportações caíram na variação mensal entre 2019 e 2020. O único mês que isso não ocorreu foi em dezembro, mas, ainda assim, ficou estagnada. Já as importações vinham aumentando desde dezembro.
Coronavirus
Segundo a FGV, os efeitos da pandemia ainda não aparecem nas estatísticas do comércio exterior, “e isso fica evidente no estudo divulgado na página da Organização Mundial do Comércio (OMC), que estima queda no comércio mundial de 12,9% em um cenário otimista e 31,9% no cenário pessimista”. A FGV lembra, no entanto, que as projeções são preliminares, porque permanecem as incertezas quanto à duração, à intensidade e à expansão geográfica da covid-19 no panorama mundial.
“Os efeitos não aparecem nas estatísticas da OMC e nem nas do Brasil. As da OMC só vão até 2019 e nas nossas até março de 2020, mas não aparecem na balança comercial brasileira porque tem um tempo nos contratos de comércio de exterior e os embarques. O que se está embarcando agora são contratos feitos antes”, explicou a pesquisadora associada da FGV Lia Valls à Agência Brasil.
O estudo da OMC já apontava ritmo de desaceleração do comércio mundial a partir de 2019, em consequência das tensões comerciais entre os Estados Unidos e a China. A queda entre 2018 e 2019 ficou em 0,1%.
“O comportamento desfavorável dos preços das exportações significa que o crescimento das exportações fica dependente do aumento do volume, um resultado mais difícil de ser garantido num ano em que se espera uma recessão mundial”, avaliou a FGV.
O volume exportado para o mercado da China e Ásia, excluindo a China e o Oriente Médio, mostra variações positivas na comparação entre o acumulado do ano até março de 2019 e 2020. Conforme o Icomex, em todos os meses do trimestre as exportações cresceram, sendo, nas vendas de soja de 44%, no minério de ferro de 21% e na carne bovina de 116%. Esses resultados explicam a elevação registrada no comércio com a China. No entanto, a redução dos embarques da soja para aquele país poderá impactar as exportações com previsão de queda no segundo semestre.
Com aumento de 28,6%, a agropecuária se destacou entre todos os setores que anotaram variação positiva em março na comparação ao ano anterior. A elevação de 310% na indústria de transformação teve influência das vendas de óleo combustível, que é o quarto principal produto da pauta. A FGV apontou, no entanto, que em relação ao trimestre, apenas a agropecuária apresentou aumento de 1,4 %.
Futuro
De acordo com a FGV, em meio às incertezas dos efeitos da crise provocada pela infestação do novo coronavírus no mundo, as projeções estão sempre sujeitas à revisões e erros. “Em visão atual, as expectativas apontam para um desempenho pior no comércio internacional do que o registrado na crise financeira de 2009. Naquela época o volume recuou 12,1%, mas se recuperou no ano seguinte e cresceu 14,4%. Agora a situação pode não se repetir”.
“Não só a queda em 2020 pode ser maior, mas a recuperação mais lenta. A crise do covid-19 afetou o transporte de cargas e pessoas, canais de logística e as cadeias globais de valor. Surge um debate se os países irão rever suas políticas, em especial naqueles setores onde a dependência das importações é elevada. Em outras palavras, o mundo será mais protecionista”, completou a FGV.