Bolsa despenca 7,64% após OMS decretar pandemia de coronavírus

Por Wellton Máximo – Repórter da Agência Brasil

O agravamento da epidemia de coronavírus e o acirramento dos conflitos no Oriente Médio provocaram um novo dia de turbulência nos mercados globais. Mais uma vez, o Brasil foi atingido pela instabilidade, com a bolsa de valores despencando e interrompendo as negociações. O dólar subiu e voltou a fechar acima de R$ 4,70.

O índice Ibovespa, da B3 (a bolsa de valores brasileira), fechou o dia com recuo de 7,64%, aos 85.171 pontos. Ontem (10), o indicador tinha se recuperado, mas o alívio não durou. O dólar comercial encerrou a sessão vendido a R$ 4,721, com alta de R$ 0,075 (1,61%). A cotação praticamente igualou o recorde de R$ 4,726 registrado na segunda-feira (9).

O Banco Central (BC) leiloou US$ 1 bilhão em contratos de swap cambial, que equivalem à venda de dólares no mercado futuro. No início da note, o BC anunciou que venderá US$ 1,5 bilhão das reservas amanhã pela manhã.

Circuit breaker

O Ibovespa vinha operando em baixa, depois de subir 7,1% ontem. No entanto, a situação piorou no meio da tarde, após a Organização Mundial de Saúde (OMS) decretar pandemia de coronavírus. Das 15h14 às 15h50, as negociações foram interrompidas porque o índice acumulava queda de mais de 10%.

Esse é o chamado circuit breaker, mecanismo acionado quando o índice cai mais que determinado nível. Na manhã de segunda-feira, a bolsa também chegou a acionar o circuit breaker.

A pandemia de coronavírus aumenta os temores de uma recessão global. Isso porque a quarentena imposta em diversos países resulta no fechamento de fábricas, do comércio e na queda da produção e do consumo.

Petróleo

Pouco depois de a B3 retomar os negócios, o bombardeio de uma base norte-americana no Iraque deteriorou as expectativas. O ataque com pelo menos 15 foguetes, que matou dois americanos e um britânico, aumenta as tensões em torno da produção mundial de petróleo.

A crise provocada pelo coronavírus foi agravada pela disputa de preços entre Arábia Saudita e Rússia em torno do petróleo. Membro da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), a Arábia Saudita aumentou a produção de petróleo depois que o governo de Vladimir Putin decidiu não aderir a um acordo para reduzir a extração em todo o mundo.

O aumento de produção num cenário de queda mundial de demanda por causa do coronavírus fez a cotação do barril de petróleo voltar a cair hoje. Por volta das 18h, o barril do tipo Brent era vendido a US$ 35,70, com queda de 4,08%, depois de ter subido cerca 10% ontem.

Para o Brasil, a queda no barril de petróleo afeta as ações da Petrobras, a maior empresa brasileira capitalizada na bolsa. Os papéis ordinários (com direito a voto em assembleia de acionistas) da companhia fecharam o dia com queda de 10,84%. Os papéis preferenciais (que dão preferência na distribuição de dividendos) caíram 9,74%. Segundo a própria Petrobras, a extração do petróleo na camada pré-sal só é viável quando a cotação do barril está acima de US$ 45.

Consequências

A queda nas cotações do barril de petróleo traz outras consequências para a economia brasileira. Caso os preços baixos se mantenham, a companhia repassará a queda do preço internacional para a gasolina e o diesel. Se, por um lado, a queda beneficia os consumidores; por outro, prejudica o setor de etanol, que perde competitividade.

Os preços mais baixos diminuem a arrecadação de royalties do petróleo e a arrecadação de Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), o principal tributo estadual, num momento em que diversos estados atravessam dificuldades financeiras. A desaceleração da economia mundial reduz a demanda por commodities (produtos agrícolas e minerais com cotação internacional), prejudicando as exportações brasileiras.

Hoje, o governo reduziu, de 2,4% para 2,1% a previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2020. Segundo a equipe econômica, o coronavírus pode reduzir o crescimento entre 0,1 ponto percentual, no cenário mais otimista, e 0,5 ponto, no cenário mais pessimista.

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