Cravista Marcelo Fagerlande lança livro na Nobel em Petrópolis

Foto: Renata Teixeira (renatateixeira.site - @renatateixeira.site)

Uma das mulheres mais famosas dos salões cariocas da Belle Époque, eleita a mais bela da capital fluminense em 1900 numa competição que mais tarde seria conhecida como concurso de miss, Bebê Lima e Castro (1878-1965) tem sua história contada pela primeira vez no livro “Muito além dos salões: Bebê Lima e Castro, musa do Rio em 1900” (Editora 7Letras), escrito pelo cravista e professor Marcelo Fagerlande. No dia 20 de janeiro, das 17h às 19h, o autor estará na Livraria Nobel para autografar o livro e participar de um bate-papo com o público.

Ilustrado com mais de 50 imagens, entre fotos, programas e anúncios de espetáculos e festivais, a obra também traz detalhes das temporadas de veraneio que a musa da belle époque passava em Petrópolis. Em 1938, Bebê comprou uma casa na Av. Barão do Rio Branco, 199. A residência serrana era chamada de “Villa Violeta”.

“A elite carioca tinha o hábito de passar o verão em Petrópolis e nas estações de águas. Esse hábito se originou do desejo de evitar o calor e da necessidade de escapar de doenças. A Bebê sempre frequentou Petrópolis com os pais, desde o século XIX, até que, nos anos 1930, ela compra uma casa, que existe até hoje. A Villa Violeta fica no bairro da Westfália, e Bebê invariavelmente passava os verões na cidade”, conta o autor. “Havia uma certa nostalgia da monarquia, o fato de a família Orleans e Bragança ter ido para Petrópolis, além de vários personagens como Santos Dumont e Ruy Barbosa. Então, ter uma casa em Petrópolis era uma referência.”

O livro tem texto de apresentação do escritor Ruy Castro: “Onde estivemos por todos esses anos que não soubemos de Violeta — Bebê — Lima e Castro? Como considerar contada a história de uma época, não por acaso bela, sem reservar o protagonismo a essa carioca nascida em berço de luxo que, ao tentar levar para os palcos a elegância dos salões, viveu sonhos e decepções para várias vidas?”

Ao reconstituir a trajetória de Bebê, o autor faz um recorte musical e social do Rio de Janeiro daquela época, a partir de documentos oficiais, notícias de jornais e encontros com filhos de amigos e de empregados próximos de Bebê. Foi ainda na infância que o autor ouviu as primeiras histórias sobre uma mulher ousada, contadas por seus pais e avós – estes últimos, amigos de Bebê.

Curiosamente, a história da biografada se cruza com a história do biógrafo: de certa forma, foi por obra de Bebê que Fagerlande adquiriu seu primeiro cravo de qualidade. “Bebê não tinha filhos nem parentes chegados, então deixou um longo testamento beneficiando muitos amigos, fiéis empregados e instituições. Meus avós herdaram imóveis, um Cadillac e um solitário de brilhante”, conta o autor. Por sugestão de sua mãe, a joia foi vendida e Fagerlande comprou um cravo na Alemanha, onde concluía seus estudos em música.

Nascida em Paris e batizada de Violeta, mas sempre chamada de Bebê, a moça de família tradicional da alta sociedade foi educada para ter um casamento sólido, mas as bodas com um francês terminaram em separação pouco tempo depois.       O rompimento era comentado veladamente e interrompeu temporariamente sua vida social. Mas, sua personalidade forte e a ambição por uma carreira artística fizeram com que a jovem Bebê conseguisse ser aceita novamente nos eventos sociais.

Os salões desempenhavam um importante papel na sociedade carioca no fim do século XIX. Passado o conturbado fim do casamento, as ambições artísticas afloraram e Bebê seguiu se apresentando em recepções e reuniões literárias. Ela declamava e cantava em eventos amadores. Também criou e dançou coreografias inspiradas nas “danças estéticas” de Isadora Duncan e de Loïe Fuller.

Musa de poetas e escritores, admirada João do Rio em suas crônicas (… qual escritor que não teria prazer imenso em ver uma peça sua interpretada pela beleza fascinadora e o talento polimorfo da Sra. d. Bebê Lima e Castro?), Bebê se tornaria uma figura marcante na sociedade. Além das festas e eventos beneficentes, Bebê também brilhava nos palcos dos teatros Phenix, Lyrico e Theatro Municipal do Rio de Janeiro.

Na primeira metade da década de 20, após a morte do pai, foi para a Itália se aperfeiçoar em canto lírico. Em 1925, de volta ao Rio, teve uma aclamada estreia profissional, mas o sucesso no canto não durou muito: em 1928, em “O Barbeiro de Sevilha”, recebeu uma vaia estrondosa da plateia. Abalada, retornou para a Itália, só voltando de vez ao Brasil em 1935, aos 56 anos. A carreira já estava encerrada, mas Bebê ainda frequentou e reuniu amigos da nata carioca até sua morte, aos 86 anos, em 1935.

Marcelo Fagerlande – Cravista, diplomado pela Escola Superior de Música de Stuttgart, com doutorado e musicologia pela UNIRIO, e pós-doutorados na França (IRPMF/ Paris) e no Brasil (PPGG-UFRJ). É professor titular da Escola de Música da UFRJ. Realizou concertos por todo o Brasil e em países da América do Norte, Europa e América do Sul. Foi regente ao cravo de óperas em diversos teatros brasileiros. Gravou CDs no Brasil e na Alemanha, e publicou “O Método de Pianoforte de José Maurício” (Relume-Dumará), “O baixo contínuo no Brasil” (7Letras) e “O cravo no Rio de Janeiro do século XX” (Rio Books), entre outros.

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