Diagnóstico de Transtornos Mentais: Entre a Complexidade e o Excesso

O diagnóstico de transtornos mentais é um processo complexo que exige precisão, conhecimento e uma abordagem multidisciplinar. Dados do Ministério da Saúde indicam que entre 10% a 20% das crianças e adolescentes sofrem de transtorno mental, muitos dos quais permanecem sem um diagnóstico formal por anos, comprometendo seu desenvolvimento e qualidade de vida. A dificuldade de identificar corretamente esses transtornos pode resultar tanto na subestimação de um problema real quanto no excesso de diagnósticos, levando a tratamentos desnecessários, como relata a neurologista e professora da UNIFASE/FMP, Carla Gikovate. 

“O diagnóstico é muito útil na medida que ele oferece a oportunidade de você ter tratamentos adequados. Então, não ter um diagnóstico de algum transtorno relacionado com o desenvolvimento infanto-juvenil pode privar a criança, não só das intervenções, quanto das orientações para família e para a escola. Pais que compreendem as características do filho certamente vão conseguir lidar com isso de forma muito melhor. Agora, diagnósticos errados trazem para criança um estigma e uma identidade relacionada com um transtorno que ela não tem, e isso é muito ruim porque a criança cresce com a visão de que determinadas características são problemas a se resolver, o que muitas vezes não é verdade. Infelizmente a gente padece dos dois maus. Na verdade, existem dificuldades de acesso ao especialista para receber o diagnóstico correto e existem muitos diagnósticos errados atualmente principalmente de autismo e de TDAH também”, explica a Dra. Carla.

Com a crescente conscientização sobre saúde mental, torna-se fundamental discutir a diferença entre traços de personalidade e transtornos. Nem todo comportamento diferente ou desafiador indica um transtorno mental. Muitas características fazem parte da diversidade comportamental humana e não representam necessariamente um problema clínico. Levar a criança nas consultas regulares ao médico pode ajudar quando houver alguma dúvida sobre o desenvolvimento infanto-juvenil.

“É importante que a família tenha um pediatra que acompanha a criança não somente quando a criança está doente, porque quando a criança fica doente, por vezes, não é um bom momento para avaliar o desenvolvimento e o comportamento. Então, que sejam feitas consultas regulares para que o pediatra ou o médico de família consiga avaliar a criança em um momento ativo, para poder ver o desenvolvimento motor, da linguagem, da sociabilidade e até das habilidades acadêmicas. Se o profissional que acompanha a criança, percebe que existe algum atraso do desenvolvimento típico, como, por exemplo, uma criança não andar com 18 meses, ou não sentar com 9 meses, ou não falar nenhuma palavra com um ano e meio, vale a pena uma avaliação mais detalhada ou o encaminhamento para o especialista. A melhor pessoa para fazer esse julgamento é o pediatra que acompanha a criança”, explicou ela.

Ter um diagnóstico correto é apenas o primeiro passo. O tratamento adequado é fundamental para garantir qualidade de vida e bem-estar ao indivíduo. Cada caso deve ser tratado de forma individualizada, considerando aspectos emocionais, sociais e biológicos. O acompanhamento multiprofissional é essencial nesse processo, envolvendo psiquiatras, neurologistas, psicólogos, terapeutas ocupacionais, psicopedagogas, fonoaudiólogos e outros especialistas, conforme a necessidade. Esse monitoramento permite ajustes no tratamento e garante que a evolução do paciente seja acompanhada de perto.

“Então, o diagnóstico dos transtornos relacionados ao comportamento e ao desenvolvimento é um diagnóstico totalmente clínico. Não existe nenhum exame complementar, nem um exame de laboratório. A avaliação é clínica feita em consultas, onde nós juntamos dados referentes ao que a família nos conta com os relatórios escolares e as observações no consultório. A equipe multidisciplinar é fundamental, porque cada especialidade traz o seu olhar, traz um conhecimento na parte de orientação específica. Esse trabalho em conjunto é de grande valia para avaliação dos transtornos do neurodesenvolvimento”, explica a neurologista.

Pensando nisso, a UNIFASE/FMP está com as inscrições abertas para o curso de atualização “Desenvolvimento, Comportamento e Saúde Mental Infantojuvenil: da Prevenção à Ação”. O curso começa em abril e tem duração de 4 meses. Visa capacitar profissionais das áreas de saúde e educação para identificar sinais iniciais de dificuldades relacionadas à saúde mental infantojuvenil, incluindo aspectos do desenvolvimento e comportamento, realizar avaliações preliminares e fornecer orientações essenciais às famílias, favorecendo o pleno desenvolvimento de crianças e adolescentes. 

“O curso tem como objetivo central a atualização baseada em evidência e discussões de situações clínicas do dia a dia de todos nós, com olhar multiprofissional e troca de discussão frequente”, finaliza a professora.

Mais informações sobre o curso você encontra em https://www.unifase-rj.edu.br/curso-atualizacao/desenvolvimento-comportamento-e-saude-mental-infantojuvenil

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