Exposição conta, no Rio, história dos periódicos do país

Por Rafael de Carvalho Cardoso – Repórter da Agência Brasil – Rio de Janeiro

A Fundação Biblioteca Nacional abre nesta sexta-feira (14), no Rio de Janeiro, a exposição Uma janela para o armazém de periódicos. Cerca de 80 itens do acervo foram selecionados para contar a história da Coordenação de Publicações Seriadas, setor da biblioteca que completou 100 anos em 2022, e que abriga a maior e mais antiga coleção de periódicos do país (no total, são mais de 81 mil títulos e 372 mil volumes). 

Quem visitar a mostra vai encontrar uma variedade de estilos, formas e conteúdos. As curadoras Stéfani da Silva Salgado, Raquel Ferreira e Maria Angélica Bouzada dividiram as obras em cinco módulos. 

No que trata dos veículos de comunicação impressos, surpreende, por exemplo, a diferença de tamanho entre o jornal Vossa Senhoria e o Jornal do Commercio. O primeiro podia ser folheado com poucos dedos: era considerado o menor do mundo pelo Guinness World Records. Em 1935, foi publicado nas dimensões de 9 cm x 6 cm. Em 1996, passou a ter 3,5 cm x 2,5 cm. O outro jornal, fundado em 1827 e um dos mais antigos do país, media aproximadamente 75,5 cm x 59 cm. 

Exemplar do gibi de Údi-Údi (O Pica-Pau) – Fernando Frazão/Agência Brasil

Diversidade

Quando se fala em temas, a diversidade é outra característica marcante do acervo. Periódicos infanto-juvenis, LGBTQIA+, religiosos, do movimento negro, de trabalhadores, de grupos políticos e imigrantes estrangeiros são alguns dos destaques. Cada um ajuda a conhecer melhor as diferentes realidades sociais do país ao longo dos anos. 

Em tempos de facilidade digital e online dos acervos, a exposição foi pensada para também estimular a curiosidade do público com os suportes materiais da memória nacional. 

“A gente espera que com essa exposição as pessoas consigam tirar um pouquinho o rosto do computador. As plataformas digitais, como a nossa hemeroteca, trazem muitas facilidades, mas existe também o impresso que pode ser consultado dentro das devidas questões de preservação de cada material. E é importante lembrar que tem muito material guardado na Biblioteca Nacional que ainda não está digitalizado, porque tem questões de direitos autorais”, diz Stéfani Salgado, uma das curadoras da exposição. 

 Exemplar de Pif Paf, de Millôr Fernandes – Fernando Frazão/Agência Brasil

Imprensa negra

No módulo sobre fragmentos sociais brasileiros, o destaque é o jornal O Mulato ou O Homem de Cor, criado em 1833 por Francisco Paula Brito. Ele é considerado o primeiro periódico da imprensa negra no Brasil, dedicado à luta contra o racismo e em defesa da abolição da escravidão. Nesse sentido, também está exposta uma edição especial em cetim do A Cidade do Rio, veículo impresso do abolicionista José do Patrocínio, que lutava por impulsionar ideias de emancipação dos escravos junto à opinião pública. 

Outros acontecimentos importantes da história brasileira estão representados nas páginas dos jornais em exibição. Um exemplar da Revista de Antropofagia – publicada entre 1928 e 1929 – traz o Manifesto Antropófago, símbolo do movimento modernista brasileiro. 

Suicídio de Getúlio Vargas

Exposição Uma janela para o Armazém de Periódicos celebra o centenário da Coordenação de Publicações Seriadas. Exemplar de Última Hora noticia a morte de Getúlio Vargas-  Foto – Fernando Frazão/Agência Brasil

Uma edição do Última Hora, jornal de Samuel Wainer, de agosto de 1954, anuncia o suicídio do ex-presidente Getúlio Vargas, no Palácio do Catete, no Rio. Um número da Pif-Paf lembra da revista de humor e crítica política lançada por Millôr Fernandes em maio de 1964, poucas semanas depois do golpe militar. 

As mulheres e o movimento feminista estão representados pelo O Jornal das Senhoras, lançado por Joanna Paula Manso, em 1852. Foi o primeiro periódico editado por mulheres no Brasil. A revista Walkyrias, lançada em 1934, era dirigida pela jornalista Jenny Pimentel de Borba, e tratava de questões do movimento feminista e da emancipação feminina. 

Grupos marginalizados e vítimas de discriminação ganharam voz por meio de periódicos. O jornal Beijo da rua, criado a partir do I Encontro Nacional de Prostitutas, em 1987, trazia reivindicações de direitos para o grupo. 

O Tico-Tico. – Fernando Frazão/Agência Brasil

Lampião da Esquina

A revista Femme, do Grupo de Conscientização e Emancipação Lésbica de Santos, produzida entre 1993 e 1996, contava com a participação de mulheres de diversos pontos do país. O jornal Lampião da Esquina, voltado para o público homossexual, circulou entre os anos de 1978 e 1981. 

Para o coordenador do setor de periódicos da Biblioteca Nacional, Alex da Silveira, a exposição é um dos primeiros passos no sentido de aproximar novos públicos da instituição. Ao despertar o interesse pelo acervo, ele deseja transformar novamente os corredores da biblioteca em espaços de sociabilidade e troca de conhecimento. 

“A gente sente falta daquele contato entre os usuários e os pesquisadores aqui na biblioteca. Temos novas gerações que nunca tiveram contato com o acervo material, só o digital. E é uma das nossas preocupações pensar em como recuperar esse espaço de consulta presencial e possibilitar que os pesquisadores possam trocar ideias entre si”, diz Alex, coordenador de Publicações Seriadas. 

Posts relacionados

Black Friday 2024 promete impulsionar o comércio em Petrópolis com desafios e oportunidades

Espírito natalino chega ao Shopping Itaipava neste sábado com programação que segue até dezembro

Diretor da OMS tem alta de hospital no Rio, onde passou a noite