Fiocruz Petrópolis inaugura primeira unidade de saneamento ecológico no Quilombo Boa Esperança

O Fórum Itaboraí: Política, Ciência e Cultura na Saúde, da Fiocruz em Petrópolis, inaugurou, na última sexta-feira (19), a primeira unidade demonstrativa de saneamento ecológico no Quilombo Boa Esperança, no município de Areal. A iniciativa faz parte do projeto Ará, que tem incentivado a incorporação de tecnologias sociais, a geração de trabalho e renda, a organização comunitária e a segurança alimentar e nutricional de famílias agricultoras em três regiões do Rio de Janeiro e São Paulo.   

O Quilombo Boa Esperança é composto por, aproximadamente, 400 pessoas e a necessidade da implantação de saneamento básico foi uma das principais demandas da comunidade, reforçada pelo Diagnóstico Rápido Participativo (DRP), feito pela equipe do Fórum Itaboraí durante o ano de 2022. Foi observado que as condições da proteção das nascentes e dos poços artesianos, que abastecem as casas, assim como a maneira como a comunidade capta o recurso hídrico, eram precárias e geradoras de doenças.    

Inicialmente, com objetivo de reduzir os problemas de saúde provocados pela contaminação das nascentes e da distribuição da água, o projeto providenciou a aquisição e distribuição de filtros de barro para todas as famílias, além da adequada orientação sobre a manutenção das velas.    

Paralelamente, começou a construção da primeira unidade de saneamento, o Tanque de Evaporação (TEvap) que foi feito na casa de Rosemary de Souza Silva, na localidade de Morro da Pedra. As obras tiveram duração de 45 dias.    

Especialista em engenharia ambiental, Tatsuo Shubo, da Escola Nacional de Saúde Pública “Sergio Arouca” (ENSP) da Fiocruz, explica que o TEvap recebe todo o efluente que sai do esgoto, do vaso sanitário, e entra numa caixa estanque. O tanque construído tem 10 metros quadrados de área e 1,20m de profundidade. “Nele, a gente coloca cascalho, pedra de mão, areia fina e solo. Ali, a gente planta a bananeira porque ela tem maior capacidade de evaporação. Com isso, não tem nenhum efluente saindo para o solo e nem contaminando os recursos hídricos”, afirma.    

O TEvap é conectado ainda a um círculo de bananeiras. De acordo com o especialista, isso para que em um período mais chuvoso o tanque tenha para onde extravasar. Esse círculo recebe toda a água das pias da cozinha e do banheiro e do boxe, para tratamento biológico, e o excesso de água também vai evaporar.    

Quem comemora a implantação do TEvap é a própria Rosemary. Aos 38 anos, ela é mãe de quatro filhos e diz que sempre sonhou em ter um sistema de saneamento. ”Estou sentindo uma emoção muito grande. Eu sempre quis ter uma fossa aqui, mas não tinha dinheiro para pagar o material. É um benefício enorme e não vou ter mais aquela preocupação de estar contaminando a água”, disse.    

Diretor do Fórum Itaboraí, Felix Rosenberg destaca que a inauguração desta unidade de saneamento é um dos resultados concretos do projeto Ará. “É a primeira instalação física de um sistema unifamiliar de saneamento e que vai ser reproduzido nas cinco localidades do Quilombo Boa Esperança. Depois, daremos apoio material e técnico para que a própria comunidade assuma a construção destas unidades de saneamento para todas as famílias. Nós acreditamos que, em um prazo de 12 meses, se contarmos com apoio da prefeitura também, toda a comunidade esteja com sistema de saneamento e acesso à água potável”, ressalta.   

Aos 65 anos, Celso da Cruz Fonseca é um dos líderes do Quilombo e considera a inauguração desta unidade de saneamento como uma contribuição importante para a comunidade. “Estou muito feliz com esse trabalho. A gente tem que cuidar do nosso território, que é sinônimo de liberdade, para as futuras gerações”, diz.   

Já a coordenadora geral da Associação do Quilombo do Boa Esperança, Natália Lima, destaca a necessidade da iniciativa. “Essa fossa é a proteção da nossa água, das nossas nascentes. A comunidade precisa dessa ação já que quase nenhuma casa tem saneamento aqui”, reforça.   

O projeto Ará   

O projeto Ará é coordenado pela Vice-Presidência de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde (VPAAPS) da Fiocruz e é realizado de forma integrada com três programas territoriais: o Fórum Itaboraí, a Fiocruz Mata Atlântica e o Observatório de Territórios Sustentáveis e Saudáveis da Bocaina – fruto da parceria entre a Fiocruz e o Fórum de Comunidades Tradicionais (FCT).    

O projeto também conta com a participação da Embrapa e da Articulação Nacional de Agroecologia.

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