Jornada Ciência e Comunidade reúne especialistas e membros de mais de 18 comunidades de Petrópolis em Vila Rica

A Comunidade de Vila Rica, em Petrópolis, recebeu no sábado (24 de fevereiro) a terceira edição da Jornada Ciência e Comunidade, uma iniciativa do Fórum Itaboraí: Política, Ciência e Cultura na Saúde, programa da presidência da Fiocruz em Petrópolis, em parceria com a comunidade. O evento, que já passou pelo Amazonas, no Quitandinha, e pelo distrito da Posse, busca tratar de assuntos de grande relevância social e que fazem parte dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODSs) da Agenda 2030, da Organização das Nações Unidas (ONU). A finalidade é a troca de experiências entre saberes científicos e populares para buscar soluções para os problemas apontados pela população local. 

Desta vez, o tema escolhido pela comunidade foi “Cidades saudáveis e sustentáveis”, questão sensível na Vila Rica, que abordou de forma ampla a questão do lixo e dos resíduos tendo como base o ODS número 12: Consumo e produção responsáveis, com foco na geração de resíduos por meio da prevenção, redução, reciclagem e reuso. O evento  na Escola Municipalizada Santa Terezinha e a mesa de abertura contou com a participação do diretor do Fórum Itaboraí, Felix Rosenberg; da presidente do Instituto Municipal de Cultura (IMC), Diana Iliescu, representando o prefeito Rubens Bomtempo; de Norma São Thiago, do núcleo de Educação em Saúde do município, representando o secretário de Saúde, Marcus Curvelo; da diretora da Escola, Adriana Theobald; e da Agente Comunitária de Saúde, Laura Bernardes, representando a comunidade de Vila Rica.  

Sobre o tema do evento, Felix Rosenberg destacou que o convívio das comunidades com o lixo tem aparecido como uma coisa natural, na maioria dos lugares. “A gente percebe a cada dia mais acúmulo de lixo, porque as pessoas já estão sem a consciência clara de qual o impacto do resíduo na nossa saúde e na saúde do ambiente. Já aceitamos como uma coisa natural. Gostaria de destacar e parabenizar a comunidade de Vila Rica, que propôs para esta terceira jornada a discussão da gestão do lixo, porque isso demonstra que essa realidade cultural que está invadindo o cotidiano de nosso povo em geral, não está presente aqui na Vila Rica, pelo contrário, a comunidade é consciente desse problema e quer discutir visões e mecanismos de como transformar essa realidade. Não é um tema fácil, mas como sabemos: todo caminho se faz ao andar. Então, é continuar essa caminhada para encontrar soluções”, ressaltou o diretor do Fórum Itaboraí. 

A programação do dia teve início com a palestra “Lixo e Saúde”, ministrada por Alexandre Pessoa, professor-pesquisador da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz). “Talvez fique bastante claro para vocês que resíduo sólido, lixo, é uma questão de saúde pública, eu não vou falar do problema, porque o problema também pode virar potencialidade”, destacou, referindo-se ao fato de que parte do que é considerado resíduo pode ser reciclado. O especialista destacou também que a gestão do resíduo sólido é muito diferente de município para município. “Temos exemplos maravilhosos neste país e temos exemplos ruins”. Alexandre destacou o papel dos garis que, segundo ele, deveriam ser considerados como agentes de saúde pública. 

Em seguida, Viviane Japiassú, professora do Instituto Federal do Rio de Janeiro – IFRJ e da Universidade Veiga de Almeida, abordou o tema: Lixo e Desastres, explicando como o acúmulo de lixo ocasiona deslizamentos e outros acidentes ambientais. O evento continuou à tarde com a palestra da arquiteta Cibele Vieira, professora da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), que falou sobre Gestão de Lixo Orgânico e o papel da sociedade e do poder público na sua produção e eliminação.  

Por fim, encerrando a programação, Jennifer Thais, representante da Associação de Catadores da Cidade de Itabirito – ASCITO) e que participou ativamente do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR), abordou a questão da gestão do lixo sólido e da importância da organização associativa e solidária da comunidade. Jennifer iniciou a fala contando um pouco de sua trajetória com a questão dos resíduos, que começou quando a família trabalhava em um lixão a céu aberto, onde era exposta a questões insalubres. “Até quando a gente teve uma oportunidade, que aconteceu uma mudança na vida da minha família, e a gente foi para outro município e começou a trabalhar de forma organizada numa associação de catadores. Depois que a gente foi para associação, a nossa realidade mudou, a gente começou a entender que não estava mais trabalhando com o lixo e que a gente já não era mais considerado catador de lixo, éramos considerados catadoras e catadores de materiais recicláveis”, contou. 

O evento contou ainda com apresentação do Teatro do Oprimido, além de apresentações dos cantores Gustavo e MC Walter e dos músicos da Orquestra de Câmara do Palácio Itaboraí. Paralelamente, ocorreu a mostra de talentos, com produtos feitos pelos artesãos de Vila Rica. 

Sobre as jornadas 

O objetivo das jornadas é buscar caminhos para o Bem Viver, criando um espaço para que temas que impactam o cotidiano da sociedade sejam debatidos. A primeira Jornada Ciência e Comunidade aconteceu em janeiro de 2023, na Comunidade do Amazonas, no Quitandinha. Na ocasião, foi debatido o tema: “Juntos rumo à soberania alimentar – caminhos a trilhar”. O evento abordou o Objetivo do Desenvolvimento Sustentável número 2, que prevê: “Acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhoria da nutrição e promover a agricultura sustentável”. 

Já a segunda edição, no distrito da Posse, aconteceu em agosto do ano passado, e teve como tema Direito à Cidade, tendo como base o Objetivo do Desenvolvimento Sustentável (ODS), número 11: “Cidades e Comunidades Sustentáveis”, que tem como meta tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis.  

Para Felix Rosenberg, as jornadas são sessões de reflexão que trazem novas ideias. “E essa reflexão é que vai madurar assim como uma planta dentro da nossa mente e vai pouco a pouco gerando novas ideias, iniciativas. Não se espera que dessas reuniões surja uma solução imediata. São jornadas de acúmulo, de conhecimento, formando-nos juntos, academia e comunidade, para conhecer melhor estes temas. E não há nada que substitua o conhecimento e a educação para transformar a realidade”, concluiu. 

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