Médico alerta para riscos da tuberculose pulmonar não tratada

A doutora Luciana Souza compara duas radiografias de tórax diferentes de um paciente enquanto conversa com um colega de um hospital de campanha criado para tratar pacientes que sofrem da doença de coronavírus (COVID-19) em Guarulhos, São Paulo

Por Alana Gandra – Repórter da Agência Brasil – Rio de Janeiro

No Dia Mundial de Combate à Tuberculose, comemorado hoje (24), a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) alerta a população que a doença, quando não diagnosticada e tratada ou quando o tratamento é suspenso, pode provocar complicações em outros órgãos do corpo, entre as quais a tuberculose geniturinária, uma das consequências mais graves da tuberculose pulmonar.

O presidente da SBU, Alfredo Canalini, explicou à Agência Brasil que, no país, a porta de entrada do bacilo de Koch, causador da tuberculose, é o pulmão. Na grande maioria das vezes, a doença começa com uma infecção pulmonar que pode provocar alguns sintomas que o paciente acaba negligenciando, como febre, tosse persistente e perda de peso.

“Esse bacilo de Koch, na medida em que ele vai colonizando o pulmão, os gânglios linfáticos, ele pode chegar até a corrente sanguínea. Quando isso acontece, ele pode se alojar em diferentes partes do corpo”, disse. As consequências podem ser tuberculose óssea e tuberculose urinária. A tuberculose pode ser prevenida com a vacina BCG nos recém-nascidos.

No caso da tuberculose urinária, Canalini informou que, como o rim é um órgão extremamente vascularizado, a chance de ser acometido por essa doença é muito grande, em função da carga de sangue que recebe. A tuberculose atinge, em primeiro lugar, o tecido do rim, sem gerar, a princípio, nenhum problema para o paciente urinar.

“Só que, na medida em que a doença no rim vai crescendo, aquela bactéria vai se reproduzindo e pode começar a ser expelida através da urina. Chega ao sistema coletor, que é onde a urina produzida pelo rim vai sendo conduzida até a bexiga e, aí, os problemas urinários podem começar a acontecer”, indicou.

Quando há sintomas, podem ocorrer dor ao urinar, dor na região lombar, sangue na urina, micção frequente, infecção urinária de repetição e febre. Esses sintomas, entretanto, costumam demorar a aparecer.

Campanha

Segundo Canalini, os problemas lembram muito as queixas de uma cistite comum. Muitas vezes, o paciente pensa que é uma inflamação da bexiga comum e, inclusive, até os profissionais da atenção primária vão medicar como se fosse uma cistite e não atentam para a possibilidade de ser uma tuberculose urinária.

Caso o paciente não seja atendido por um urologista que peça os exames para detectar a tuberculose, o que pode acontecer é a doença evoluir e destruir o ureter, a bexiga e, no caso do homem, pode provocar um abcesso nos testículos.

“É uma doença que, se não for tratada da maneira adequada, pode, inclusive, provocar a morte do paciente”. O presidente da SBU lembrou que, quando a tuberculose não tinha tratamento, muitas pessoas morriam. Hoje, há tratamento.

Por isso, a campanha que a SBU está fazendo visa levar as pessoas a pensarem na possibilidade de diagnóstico em pacientes que apresentam queixas urinárias e não melhoram com os tratamentos que seriam usados em situações mais corriqueiras, como uma cistite simples.

Em segundo lugar, a finalidade é advertir a população que, no momento em que o diagnóstico da tuberculose é feito, o tratamento tem que ser realizado com uma disciplina muito rígida.

“O paciente tem que seguir as recomendações do médico. Ele não pode abandonar o tratamento no meio. Isso é uma situação com que, às vezes, a gente se depara. O paciente começa o tratamento e, ao fim do terceiro mês, decide abandonar o tratamento. Daqui a alguns anos, estará com uma tuberculose urinária”, disse.

O tratamento dura seis meses e tem que ser feito até o fim, mesmo que os sintomas tenham desaparecido. É que o fim dos sintomas não significa, necessariamente, que a doença esteja totalmente debelada. A medicação está disponível nos serviços públicos de saúde e é dada de graça. “O paciente tem que aderir ao tratamento e seguir rigorosamente as recomendações do médico”, frisou o especialista.

Infecção específica

Nas mulheres, além do aparelho urinário, a tuberculose geniturinária pode afetar trompas, endométrio e ovários, causar infertilidade, doença inflamatória pélvica, amenorreia ou aumento do fluxo menstrual.

A doença tem incidência entre 7,1% e 15% dos casos de tuberculose pulmonar. Canalini esclareceu que, na medicina, a tuberculose é chamada de infecção específica. Isso quer dizer que as reações que o bacilo de Koch causa, nenhum outro bacilo provoca.

Outro aspecto é que, na tuberculose urinária, há complicações decorrentes da infecção e, ao longo do tratamento, o paciente tem que ser acompanhado por um urologista porque o processo de cicatrização das lesões pode gerar problemas.

“A gente tem que ficar atento e acompanhar esse paciente durante todo o processo de tratamento porque, à medida que aquelas lesões vão cicatrizando, elas podem gerar uma obstrução do ureter, que é um tubo fininho que leva a urina do rim até a bexiga”,  disse. Essa obstrução é desfeita por meio de cirurgia.

Ele acrescentou que o paciente só pode ser submetido a um tratamento definitivo quando a doença estiver  curada e debelada. As sequelas serão tratadas depois.

Fatores de risco

Segundo o Ministério da Saúde, o Brasil registrou, em 2019, 73.864 casos novos da doença (35 por 100 mil habitantes). Esse número caiu, em 2020, para 66.819 casos novos de tuberculose, o que corresponde a uma incidência de 31,6 casos por 100 mil habitantes. A queda pode ter sido consequência da pandemia de covid-19.

Diabetes, tabagismo e doenças que diminuem a imunidade (como Aids) podem facilitar a infecção pelo bacilo de Koch. O presidente da SBU afirmou, ainda, que o tabagismo é a principal causa de morte evitável no planeta, responsável por uma série de problemas como enfisema pulmonar, câncer de pulmão e câncer de bexiga.

Para o paciente que é tabagista, tem enfisema e adquire tuberculose, “isso é um potencializador da gravidade do problema e da insuficiência respiratória que ele pode ter”. A tuberculose é mais comum entre o sexo masculino, além de pessoas em situações vulneráveis, como profissionais de saúde, moradores de rua e indivíduos privados de liberdade.

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