Seminário Petrópolis, Memória e Patrimônio terá homenagem à Arquiteta e Urbanista, Dora Alcântara

O Seminário Petrópolis, Memória e Patrimônio, que será realizado em Petrópolis nos dias 20 e 21 de outubro, fará uma homenagem à Dora Alcântara, arquiteta e urbanista considerada guardiã do Patrimônio Histórico Brasileiro, premiada no Brasil e no mundo, e que se  destaca também por seus estudos sobre azulejaria nacional. Em Petrópolis, atuou na década de 1980 no processo de ampliação de tombamentos do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Aos 92 anos, Dora participará da homenagem no sábado (21), às 17h. O evento será na Casa Claudio de Souza e tem entrada gratuita, mediante inscrição. As vagas são limitadas.

A arquiteta e urbanista conta com uma trajetória participativa dentro do segmento de preservação do patrimônio, sendo a segunda mulher da história a ter ganhado o Colar de Ouro – grande prêmio de arquitetura, concedido em 2019 pelo Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB). “Fiquei surpresa quando recebi a premiação porque geralmente ela era dada para arquitetos com obras construídas, como Oscar Niemeyer. E eu considero que meu trabalho foi bem mais visível como professora e no Iphan. Me senti na posição dos arquitetos que trabalham como anônimos, mas que também têm importância e peso”, diz Dora.

Recentemente, a arquiteta recebeu homenagem da Assembleia Geral do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (ICOMOS), organização não governamental global associada à UNESCO, em reunião na Austrália, em setembro deste ano. Graduada pela Escola Nacional de Arquitetura, em 1957, ao longo de sua carreira ocupou cargos como de coordenadora de Proteção e, posteriormente, coordenadora geral de Preservação de Bens Culturais e Naturais no Iphan. Também foi professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). A Arquiteta e Urbanista tem ainda livros publicados e pesquisas sobre azulejos luso-brasileiros.

Em Petrópolis, defendeu a preservação como instrumento integrado ao desenvolvimento urbano e considera a cidade com um importante peso histórico, levando em conta que não teve destaque apenas no período do Império, mas também na República e em outros momentos da história do Brasil.

Sobre seu contato com a cidade, revelou que foi aluna do antigo Colégio Sion, onde suas irmãs mais velhas também estudaram. “A preservação da cidade é muito importante. Acho muito interessante, por exemplo, alguns detalhes como a estátua de  D. Pedro II como intelectual e não aquela ideia de estar em cima de um cavalo ou com uma espada. Isso representa a cultura, o saber, que caracteriza a cidade pela sua origem, pelo seu traçado e, sobretudo, pelo seu histórico”, diz.

Para Dora, é fundamental que haja em Petrópolis a conscientização de toda a sociedade sobre a importância da preservação. “Petrópolis tem muitos valores e é importante ter instruções para a população entender a razão de ser dessas casas tombadas, não só as que representam a elite, mas também os pequenos chalés, as casas mais simples. Essa figura da cidade, panorâmica, que fala do histórico dela desde o início, me parece muita digna de ser preservada, sem falar da fase industrial”, afirma.

Os moradores podem ajudar nesse processo, segundo ela, com medidas bem simples se encarregando de não jogar coisas nos rios, nas ruas. E quando perceber que um monumento não está bem, procure o órgão responsável. “Que os moradores sejam guardiões da cidade, não contem apenas com os órgãos que tomam conta que, claro, têm uma responsabilidade enorme, mas que a própria população também zele pela conservação da cidade”, comenta.

A arquiteta revela ainda que segue ativa em busca da preservação do patrimônio brasileiro. ”Nunca deixei de trabalhar, nem pelo patrimônio, nem pelo ensino do patrimônio. Fiz isso a vida toda, continuo fazendo e vou fazer até o fim. Isso faz parte da minha pessoa”, conclui Dora.

Sobre o evento

O objetivo do Seminário Petrópolis, Memória e Patrimônio é debater sobre o cenário atual de preservação do conjunto arquitetônico histórico tombado na cidade, resultado de ações do Iphan, Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac), Conselho Municipal de Tombamento e sociedade civil. Além de Dora Alcântara, o evento também fará uma homenagem à arqueóloga Edna June Morley.

Ana Pessoa, professora da Fundação Casa de Rui Barbosa e uma das organizadoras do evento, diz que o seminário vai promover um fórum de discussão reunindo diversos atores do campo da preservação. “Estarão juntos proprietários, instituições, pesquisadores, profissionais e público, reconhecendo a complexidade do tema e a necessidade de promoção constante de discussões públicas e participativas”, afirma.

Também organizadora, a historiadora Rachel Wider acrescenta que  a ideia é promover o debate buscando valorizar o patrimônio e abordando os principais desafios enfrentados pela cidade nas políticas de preservação.

O evento é promovido pelo Centro de Pesquisa e Programa de Pós-Graduação em Memória e Acervos (PPGMA) da Fundação Casa de Rui Barbosa, com o apoio do Museu Imperial, do Instituto Histórico de Petrópolis (IHP) e da Othala Curadoria de Patrimônio Cultural.

A entrada é gratuita. Para participar, é necessário fazer a inscrição pelo e-mail: seminariopatrimoniopetropolis@gmail.com ou pelo telefone (24) 99318-6716. As vagas são limitadas.

Veja a programação completa:

Sexta-feira (20 de outubro)

16h – Abertura com a participação de representantes da FCRB, Instituto Histórico de Petrópolis, Museu Imperial, Iphan, Inepac e Museu da República.

17h – Mesa I – Petrópolis, Patrimônio e Políticas de Preservação

Mediação: Ana Pessoa (PPGMA/FCRB)

“Revisitando a Petrópolis Imperial” por Andreza Baptista (FCRB/PROARQ-UFRJ): Apresentação do projeto “Revisitando a Petrópolis Imperial: formas de morar e a representação social no séc. XIX”, destacando casas como documentos de memória e identidade social.

“Academia Extramuros: possibilidades de colaboração para a preservação de sítios urbanos históricos” por Daniela Martins (UFRJ): Relato sobre a parceria entre ETRS/IPHAN-RJ e o Laboratório Cidade e Memória/PROARQ/FAU/UFRJ.

“O Iphan e os tombamentos em Petrópolis (1930-1980): a reificação da história a partir da materialidade preservada” por Jamile Silva Neto: Apresentação da trajetória dos tombamentos realizados pelo Iphan em Petrópolis entre os anos 1930 e 1980.

19h – Mesa II – Desafios na Gerência de Imóveis Tombados

Mediação: Ana Lúcia Vieira dos Santos (Arquiteta/EAU-UFF)

Apresentações sobre o Quitandinha (SESC), Fazenda Samambaia, Palácio Rio Negro e outros.

Sábado (21 de outubro)

14h – Mesa IV – Petrópolis e o Desenvolvimento Urbano

Mediação: Carlos Fernando Andrade (Arquiteto/Coordenador de Projetos na Urbanacon, Arquitetura, Urbanismo e Patrimônio)

“Passado, Presente e Futuro da ocupação imobiliária do Centro Histórico” por Paulo Lyrio (Arquiteto) e Vera Abad (Historiadora/ IHP): Resumo da ocupação imobiliária dos espaços históricos de Petrópolis.

“As legislações de proteção ao patrimônio material” por Cecília Félix de Paiva (Arquiteta da PMP, especialista em restauro): Discussão sobre os níveis de tombamento e licenciamento de obras em imóveis tombados.

16h – Mesa V – O Patrimônio e a Memória Afetiva

Mediação: Andreza Baptista (FCRB/PROARQ-UFRJ)

“Patrimônio, história e pertencimento” – Rachel Wider (Historiadora/PPGMA): Apresentação sobre como o conhecimento da história local é essencial para a preservação do patrimônio edificado.

“Além das fachadas: histórias e memórias por trás dos casarões da Rua do Imperador” – por Carolina Freitas: Discussão sobre as transformações dos casarões do Centro Histórico no comércio local.

 “Acesso à Petrópolis” por Jéssica Justino (Arquivista – Chefe do Arquivo): Apresentação do acervo do Arquivo Histórico de Petrópolis.

17h – Homenagens e encerramento

Homenagens à Dora Alcântara e Edna June Morley, profissionais que contribuíram significativamente para a preservação do patrimônio cultural de Petrópolis.

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