Culturalmente, o povo brasileiro é conhecido por sua forma carinhosa e afetiva nas relações. Como é bom aquele happy hour, tomar um chope gelado com os amigos, curtir um churrasco no fim de semana, encontrar os familiares, dividir uma pizza, realizar noites de jogos e bater papo, não é verdade? Pois é, mas a chegada da pandemia impôs limites no que para nós é tão sagrado, o convívio social.
Para evitar a disseminação da doença e finalmente vencermos esse grande desafio, é essencial que as medidas de segurança sejam seguidas também nas comemorações deste fim de ano. O Coronavírus, inimigo invisível a olhos nus, que causa grandes prejuízos à saúde, sendo responsável pela morte de milhares de pessoas ao redor do mundo, ganhou força nos últimos dias. Os números de infectados que estavam sendo reduzidos, de repente, voltaram a crescer.
“O número de casos da doença cresceu significativamente neste final de ano e tende a aumentar ainda mais, caso as pessoas não adotem as medidas de segurança necessárias durante o Natal e o Ano Novo. As pesquisas revelam que esse aumento teve maior incidência entre os jovens, que estão indo para restaurantes, bares e festas. As vacinas estão chegando, mas ainda vai demorar muito para ser aplicada em larga escala. Se as pessoas não se conscientizarem, muita gente vai contrair o vírus e, infelizmente, muitos ainda vão morrer”, explica o médico Paulo Sá, mestre em Saúde Pública e coordenador do curso de Medicina da UNIFASE/FMP.
Com o aumento no número de casos, surge outra grande preocupação neste processo de enfrentamento ao vírus: a temida taxa de mutação do SARS-COV2. Em função das taxas de disseminação da doença, quanto mais gente infectada, aumentam também as possibilidades de mutação do vírus, o que compromete a eficácia das vacinas produzidas pelos laboratórios no combate ao Coronavírus.
“A preocupação com as mutações é com relação à produção das vacinas, pois são confeccionadas a partir de antígenos mais significantes do ponto de vista imunológico, ou seja, pedaços da estrutura do vírus que permitam ao sistema imune um reconhecimento com consequente produção de anticorpos. É possível que quando a vacina entrar no mercado, a cepa viral circulante apresente, em função das mutações, outros antígenos que a vacina não contemple. Tudo vai depender da colaboração com relação às novas diretrizes sociais: distanciamento físico, o uso de máscaras e a utilização do álcool em gel. Para isso, um programa de educação em saúde deve ser implementado e aderido em massa pela população. Só dessa maneira será possível atrasarmos a infecção em massa, para uma imunização efetiva, a partir da vacina”, destaca André Luís Figueiredo, geneticista e professor da UNIFASE/FMP.
Receber amigos e familiares para celebrar o Natal e o réveillon é um costume extremamente valorizado na nossa sociedade, mas diante do risco iminente, nesta nova realidade que estamos enfrentando, é preciso evitar ao máximo esses encontros, pois a única forma eficaz de contribuir neste processo é o distanciamento social.
“Embora a festa oficial tenha sido cancelada, muitos estão organizando festas em suas casas. Esse é o perigo, porque é nesse momento que terão contato com pessoas que podem estar infectadas. O resultado certamente virá, dali a 10 ou 12 dias, pois vai explodir o número de novos casos da doença. Já estamos em plena ascensão. É importante destacar que existem muitas pessoas assintomáticas, não dá para olhar e saber quem está ou não infectado. Eu tenho certeza de que você não quer ser responsável pela morte ou pelo sofrimento de outra pessoa, especialmente de um amigo ou de um familiar. Então, é preciso não se expor. Todo cidadão é convidado a ser um profissional da saúde em potencial neste momento de extremo cuidado. 2021 pode ser próspero ou não, vai depender da postura e do comprometimento de cada um de nós no combate a esse vírus”, frisa o médico.
Os especialistas em saúde destacam que uma simples visita pode ser o suficiente para que o vírus se espalhe. O ideal para redução da doença é que todos se comprometam a ficar em suas casas e utilizar os avanços tecnológicos para uma reunião em família, por uma chamada de vídeo, mensagem ou telefonema.
“Podemos evitar o aumento de mortes se tivermos o devido cuidado com o uso correto da máscara, da higiene pessoal e do distanciamento social. Assim, vamos preservar muitas vidas. Tenho certeza de que ninguém quer ser responsável pela morte de outros tantos, só por agir de forma inconsequente. Nesse final de ano, estamos todos cansados e com saudade de abraçar uns aos outros, mas precisamos tomar o devido cuidado. Na noite de Natal é necessário restringir o contato apenas entre o núcleo familiar, tomando os devidos cuidados, todos protegidos e mantendo o distanciamento necessário. Preservar a vida, para que não apenas este Natal seja realmente feliz, mas inúmeros outros que virão”, finaliza o médico Paulo Sá.