Por Wellton Máximo – Repórter da Agência Brasil – Brasília
As dificuldades criadas pelo aumento do protecionismo em países desenvolvidos podem servir de estímulo à diversificação da indústria no planeta, disse nesta terça-feira (22) o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Em discurso de abertura da 15ª Reunião de Cúpula do Brics, em Joanesburgo, África do Sul, o ministro destacou que os países em desenvolvimento podem se aproveitar da fase atual da globalização para atraírem indústrias que gerem empregos qualificados.
“O mundo vive um retrocesso do ponto de vista da globalização, mas isso pode significar um movimento de diversificação e pulverização das plantas industriais, oferecendo para os nossos povos salários e empregos mais dignos e qualificados, para que as oportunidades sejam distribuídas mais equanimemente”, declarou Haddad. Segundo o ministro, as economias em desenvolvimento devem investir na desconcentração de toda a produção em poucos países. “Penso que a África e a América do Sul podem ser plataformas para a diversificação das atividades industriais globais”, destacou.
O Brasil, disse Haddad, tem importância nesse contexto, principalmente no investimento em indústrias relacionadas ao meio ambiente, como a produção de hidrogênio verde (hidrogénio produzido sem a queima de combustíveis fósseis) e a ampliação do uso do etanol. Ele ressaltou que o país é campeão em energia limpa.
“O presidente Lula, não só pela sua própria voz, mas pela nomeação da ministra Marina Silva para o Ministério do Meio Ambiente, sinalizou, a partir do primeiro dia do seu mandato, uma total reorientação de prioridades em torno da mudança climática, que, como todos sabemos, é um desafio global da maior importância”, afirmou.
Segundo Haddad, a agricultura brasileira ajuda nesse processo, ao produzir não apenas grãos, mas fontes de energia limpa, como biomassa e biocombustíveis. “Nossa agricultura hoje está produzindo energia. E o Brasil pretende ser fonte de energia limpa, para si próprio, porque é um país que pretende se reindustrializar, ou se neoindustrializar, mas também um país que pretende exportar energia limpa para o mundo, não apenas na forma de energia propriamente dita mas também na forma de produtos verdes”, acrescentou.
Multilateralismo
Em relação ao Brics, o ministro disse que os países do grupo devem pensar não somente no plano doméstico, mas cooperarem para promoverem o multilateralismo e distribuírem as oportunidades de forma mais igualitária. “Nós, brasileiros, acreditamos que os organismos internacionais precisam, de alguma forma, refletir esse novo contexto global, em que potências emergem, em que países se desenvolvem e modificam a face do planeta à luz da dinâmica econômica, social e política”, declarou.
Ao longo desta semana, Haddad deverá participar de encontros bilaterais para discutir acordos econômicos e cooperação financeira entre o país e nações africanas. Segundo o Ministério da Fazenda, o Brasil pretende aperfeiçoar suas relações econômicas com os membros do Brics e discutir a expansão do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), atualmente presidido pela ex-presidente Dilma Rousseff.