Por Alex Rodrigues – Repórter da Agência Brasil – Brasília
Funcionários dos Correios iniciaram, na noite desta segunda-feira (17), uma greve nacional por tempo indeterminado. Segundo a Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas dos Correios e Similares (Fentect), parte dos trabalhadores decidiu cruzar os braços em protesto contra a proposta de privatização da estatal e pela manutenção de benefícios trabalhistas.
A categoria também reivindica mais atenção, por parte da empresa, quanto aos riscos que o novo coronavírus representa para os empregados.
De acordo com a direção da empresa estatal, um primeiro levantamento parcial, realizado na manhã de hoje (18), apontou que 83% do efetivo segue trabalhando normalmente, e que a paralisação parcial não afeta o atendimento aos clientes. A reportagem não conseguiu contato com representantes da Fentect, que deve divulgar um balanço do primeiro dia de paralisação às 19h de hoje.
Em nota, a federação sindical afirma que dirigentes sindicais vinham tentando negociar as reivindicações dos trabalhadores com a direção da empresa desde o início de julho. “No entanto, além de se negar a negociar, a diretoria surpreendeu a categoria ao revogar o atual Acordo Coletivo de Trabalho (ACT), que estaria em vigor até 2021”, sustenta a federação, acrescentado que, com a suspensão do ACT, 70 cláusulas foram revogadas unilateralmente.
De acordo com a Fentect, entre os benefícios suspensos com a decisão da empresa estão o vale alimentação; auxílio creche; adicional de risco de 30%; licença maternidade de 180 dias; indenização por morte; auxílio para filhos com necessidades especiais; pagamento de adicional noturno e horas extras, entre outros.
Os trabalhadores também temem pela possibilidade de privatização dos Correios. E lembram que, para minimizar os riscos de contágio pelo novo coronavírus, tiveram que recorrer à Justiça a fim de garantir o fornecimento de equipamentos de segurança, alcool em gel, testagem e afastamento dos empregados que fazem parte de algum grupo de risco, bem como daqueles que moram com crianças em idade escolar ou com outras pessoas que integram algum grupo de risco.
“A direção da ECT buscou essa greve. Retirou direitos em plena pandemia e empurrou milhares de trabalhadores a uma greve na pior crise que o país vive”, afirma o secretário-geral da Fentect, José Rivaldo da Silva, em nota divulgada pela federação. “Lutamos pelo justo. Lutamos para que as nossas vidas e empregos sejam preservados.”
Correios
Embora afirme que a paralisação não afetou o atendimento nas agências de todo o país, a direção da empresa revelou, em nota, ter adotado medidas administrativas para minimizar eventuais prejuízos à população, incluindo a realização de mutirões.
Já sobre o andamento das negociações com as entidades sindicais, a direção da empresa afirma ter priorizado a sustentabilidade financeira dos Correios, de forma a “retomar seu poder de investimento e sua estabilidade, para se proteger da crise financeira ocasionada pela pandemia”.
De acordo com a empresa, as medidas de contenção adotadas visam a economizar em torno de R$ 600 milhões anuais, enquanto as reivindicações dos empregados, se integralmente atendidas, significaria um custo adicional da ordem de R$ 1 bilhão ao ano. “Trata-se de uma proposta impossível de ser atendida”, afirma a direção da empresa, sustentando que nenhum benefício previsto no ACT foi retirado. “Apenas foram adequados aqueles que extrapolavam a Consolidação das Leis Trabalhistas CLT) e outras legislações, de modo a alinhar a estatal ao que é praticado no mercado”.
A direção da empresa garante que, por conta da pandemia do novo coronavírus, autorizou os empregados de grupos de risco, bem como aqueles que coabitam com pessoas nessas condições –, a trabalharem de suas casas, “sem qualquer perda salarial”.