Por Marco Aquino – Repórter da Reuters – Lima
Nas duas últimas semanas, os casos do novo coronavírus no Peru aumentaram em 100 mil, o maior registro desde que a doença surgiu no país em março, e o governo proibiu as festas familiares como uma nova medida para frear a pandemia.
Segundo o presidente, Martín Vizcarra, o objetivo é neutralizar uma das fontes de propagação e, ao mesmo tempo, um dos principais veículos de contágio: as crianças.
“Já chegamos aos 23 mil casos de crianças contaminadas em nosso país, e aqui em nossa instituição consideramos que as cifras vão se modificar a cada dia”, disse à Reuters o médico Franklin Mendoza, chefe da unidade de terapia intensiva (UTI) do Hospital Pediátrico San Borja.
Embora os menores de idade sejam os que menos desenvolvem a doença, as crianças infectadas assintomáticas podem servir como transmissoras silenciosas do vírus para os adultos, que em sua maioria sofrem as consequências, às vezes fatais, afirmou Mendoza.
Os casos de covid-19 no Peru dispararam em agosto e até quarta-feira (19) haviam chegado a 558.420 – quase o dobro em relação a 29 de junho. O país é o segundo com mais infecções na América Latina e o sexto em nível mundial.
Os mortos, que aumentam em média 200 por dia há um mês, estão perto dos 27 mil, a taxa de mortalidade mais alta da região, proporcionalmente à população.
Desde que o coronavírus surgiu no Peru, no dia 6 de março, o governo decretou uma quarentena rigorosa que paralisou a maior parte da indústria e confinou a população. Em maio, o país começou a reativar gradualmente as atividades produtivas para ressuscitar a economia, mas manteve o isolamento das crianças, que estudam em casa pela internet ou a televisão.
Quando saem de casa, aproveitando os minutos de liberdade, não param de correr ou patinar. Outras andam de bicicleta ou jogam bola nos parques, sob a supervisão de algum familiar.
“Você vê aqui as crianças neste parque, que saem e estão contentes, chegam em casa com outro humor, já não estão trancadas, não estão submetidas a uma rotina que também cansa”, disse Marco Prado, um pai de família, enquanto vigiava o filho que se divertia.
O presidente Martín Vizcarra disse recentemente que o excesso de confiança da população contribuiu para o ressurgimento do vírus no país, em meio ao colapso dos hospitais, à disponibilidade mínima de leitos de UTI e à falta de oxigênio medicinal, essencial para pacientes com insuficiência respiratória.