Por Alana Gandra – Repórter da Agência Brasil – Rio de Janeiro
O comportamento sedentário com o uso exagerado de smartphones, telas e computadores pelas crianças e adolescentes, observado já no período pré-pandemia do novo coronavírus, se tornou problema mais agudo com o isolamento social, determinado para evitar a disseminação da covid-19.
Atenta ao tema e diante da perspectiva de reabertura das escolas, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) lançou um manual com orientações às escolas, aos professores de educação física, pais e cuidadores sobre os cuidados necessários para o retorno às atividades.
O coordenador do Grupo de Trabalho sobre Atividade Física da SBP, Ricardo do Rego Barros, lembra que grande parte das crianças e jovens está há quase quatro meses com “zero de atividade física” e por isso, é preciso parcimônia no retorno aos exercícios.
Segundo ele, crianças menores, que gostam de pular e correr o tempo todo, vão voltar mais ansiosas e com menos fôlego para brincar. A tendência é que as crianças de 2 a 10 anos de idade queiram gastar a energia toda de uma vez. Para adolescentes, a partir de 12 anos, a recomendação da SBP é que façam atividades de maneira gradativa. “Não adianta querer recuperar de uma vez só o tempo perdido porque isso pode provocar lesões musculares”, advertiu o médico.
Na avaliação de Barros, a pandemia foi um fator obesogênico, relacionado a hábitos de vida que apresentam forte relação com a instalação e a manutenção da obesidade. “As pessoas estão comendo mais besteiras, o que é factível, não estão fazendo atividades físicas”, destacou.
Importância da higiene
A SBP lembra que retorno às atividades não pode prescindir da manutenção dos hábitos de higiene, que incluem lavar as mãos com água e sabão, usar álcool gel e máscara.
“Quando nós falamos na questão do álcool gel, isso significa transformar o álcool gel em um item da mochila escolar, em qualquer classe. A criança vai brincar no escorrega. Quem passou por ali? Acabou de brincar tem que limpar a mão, a perna, para não se contaminar. Tem que ter alguém olhando isso”, afirmou.
Professores
Para os docentes, a recomendação da SBP com relação ao retorno às atividades físicas é que sejam feitas turmas menores, com aulas mais curtas, tentando evitar muito contato.
A SBP sugere ainda que os professore planejem as aulas de educação física escolar visando evitar, ou desencorajar, a prática de esportes coletivos e atividades de contato corporal; desenvolvam as práticas corporais ao ar livre ou em espaços mais arejados possíveis; proponham, de preferência, atividades físicas de intensidade moderada, com o objetivo de potencializar a melhora do sistema imunológico a médio e longo prazo.
A entidade também destaca a necessidade de participação dos professores na construção de um plano de trabalho conjunto com toda a comunidade escolar de conscientização dos alunos para prática segura de atividades físicas neste período pós-pandemia.
Atividades esportivas individuais como atletismo, jogos de raquete, karatê, skate e capoeira, na avaliação da SBP, podem ser uma boa estratégia nesse período porque, com poucas adaptações, pode-se garantir o distanciamento físico entre os participantes. Atividades de circuito também podem ser uma opção interessante..
É necessário sempre lembrar às crianças sobre a importância do uso de álcool gel e máscaras.
“Você não consegue evitar: criança se abraça, se beija. Mas se, pelo menos, ela estiver protegida, muito bem. Os professores de educação física vão ser extremamente importantes para isso. Vão ser, talvez, o pilar mais importante do que pais e pediatras”, estimou o médico.
Escolas
Para as escolas, as orientações sugeridas pela SBP envolvem a elaboração de um plano de volta às aulas presenciais que inclua precauções e cuidados específicos para a prática de atividades físicas.
Além disso, sugerem que as escolas devem estar atentas às famílias menos assistidas e em situação de vulnerabilidade social, visando auxiliar pais e cuidadores a manter seus filhos ativos e seguros.
O espaço escolar deve ser organizado para evitar grandes grupos e contato físico. Cabe também às escolas propor cursos de formação continuada para professores e demais funcionários sobre autocuidado e cuidado com o outro, nos períodos de pandemia e pós-pandemia, incluindo as atividades físicas nesse processo.
Pais e cuidadores
Na avaliação de Ricardo Barros, os pais devem ser exemplo para os filhos e fazer uso correto do álcool em gel e da máscara. Ele observou, com preocupação, o aumento do número de pessoas que estão fazendo atividades físicas sem máscara na orla e ou em outros locais do Rio de Janeiro. “Está tudo errado”, desabafou.
“A atividade física deve ser retomada, mas nós não sabemos se vai haver um novo pico (da covid) agora. Infelizmente, essa conscientização [do potencial de letalidade da covid-19] é muito difícil”, lamentou o médico.
Para os pais, em especial, o manual da SBP recomenda que devem enfatizar as medidas de isolamento e mínimo contato, principalmente em áreas comuns como parques, pracinhas e condomínios; promover a limpeza constante de brinquedos de uso frequente, em especial aqueles utilizados fora do domicílio e que tenham sido compartilhados com outras crianças; e estimular uso de máscaras faciais de pano adequadas, nas atividades ao ar livre.
Além disso, devem dar preferência a atividades em espaços amplos, ao ar livre, como praças e parques, priorizando sempre o contato com a natureza e evitar que os filhos pratiquem atividades físicas se apresentarem sintomas gripais ou respiratórios.
A SBP considera que dividir atividades domésticas com os filhos pode ser importante tanto para aumentar o nível de atividade física quanto para estreitar os laços e aumentar a cumplicidade familiar.